CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

quinta-feira, 29 de março de 2018

Ceia do Senhor

1. A páscoa, antes festa dos pastores, que na primavera, tempo do nascimento das ovelhas, banhavam, com o sangue dos cordeiros, os limites dos acampamentos, a fim de expusarem os espíritos maus, que impediam a fecundação, foi assumida, mais tarde, como festa dos Ázimos, também festa agrícola, e, bem depois, como memória da libertação do Egito e do exílio, bem como de qualquer tipo de opressão sofrida pelo povo de Deus, O qual é lembrado pelos Seus feitos a favor do povo. A páscoa traz, para os novos filhos de Israel, a possibilidade de um novo tempo, marcado pelo sentido de libertação.
2. No texto acima, Jesus tem conhecimento da hora decisiva de Sua existência nesse mundo, de Sua origem e do retorno ao Pai, e de quem era o Seu traidor. Ele tem consciência de Sua missão, do amor pelos Seus, do modo como deve exercer essa missão e da chegada do tempo de partir para o Pai. Durante toda Sua caminhada com os Seus, manifestou Seu amor nos gestos, nos ensinamentos, nos milagres e nas suas orações. Toda sua vida foi voltada para o Pai e para os Seus, amando-os sempre e para sempre e de modo pleno, isto é, até a perfeição. Apesar da traição do mundo no amor (em Judas), na religião (no Sinédrio) e na política (Pilatos), Jesus colocou-se como OBLATIVIDADE. O mundo O traiu e continua empedernido no pecado, mas Ele continua afirmando Seu amor pela salvação de todos. No mistério eucarístico, de modo incruento, verifica-se a realidade mesma do Seu amor: Seu corpo será dado e Seu sangue será derramado, o sangue da Nova e Eterna Aliança para a libertação dos Seus e de todos.
3. Jesus manifesta seu amor por meio da humildade e do serviço. Sua lógica é completamente diferente daquela do mundo. Ao lavar os pés dos Seus, Ele ensina que o combate do orgulho, da divisão, da destruição do homem dar-se-á quando cada um for capaz de olhar para o outro e tratá-lo como sendo mais importante. Fazendo isso de modo recíproco, toda a humanidade será transformada pela lógica do amor, da verdade e da vida. Os escravos não-judeus ou as esposas eram os que lavavam os pés do seu senhor, no entanto, aqui, é Jesus, o Senhor e Mestre, quem lava os pés dos Seus. Jesus é o absolutamente contrário à lógica que justifica a dominação, o orgulho, a existência de senhores e escravos, e a exploração de um pelo outro. Ele tira o manto (a dignidade de senhor), não num sentido de desprezo, mas de compartilhamento com os Seus, e coloca a toalha (o avental próprio do servo), revelando um gesto desconcertante de total desapego e doação de Si. Por isso Pedro fica escandalizado, não entendendo tal ação de Jesus. Esse gesto chama uma pergunta e impulsiona um ensinamento. Essa era a forma como os rabinos costumavam ensinar.
4. Jesus não tira a toalha, mas veste o manto por cima dela, dando a entender que sua vida de serviço continuará até a cruz, mas não somente, pois, segundo o texto, há como que um mandamento dado à Igreja de fazer a mesma coisa no mundo. A Igreja continuará na história o exercício serviçal do amor, como dom para toda a humanidade. Necessário se faz a conversão de todos à lógica de Cristo, que não cumpre o ritual de lavar as mãos simplesmente, mas vai mais além, lavando os pés dos presentes, até mesmo os pés de Judas. Isso significa que não se tratava de purificação física, mas exigência de mudança total de mentalidade, o que não aconteceu em Judas Iscariotes, que permaneceu na logica do diabo. Nesse contexto, é que nasce a Eucaristia, como vida doada e compartilhada, e o Sacerdócio, como vida ofertada em sacrifício e comunhão.
5. São Paulo diz que foi isso que ele recebeu e agora transmite (1Cor 11,23-26). Ou seja, ele mudou de mentalidade, conheceu verdadeiramente Jesus Cristo, tornou-se, por isso mesmo, irmão dos demais discípulos do Messias, recebendo deles o que foi ensinado, vivido e instituído por Jesus. Paulo não ensina senão o que recebeu e o transmite com com amor e dedicação. Na memória eucarística encontra-se a ligação com o Messias Sacerdote e Servo. A memória não é uma lembrança, mas atualização do mistério mediante ação do Espírito Santo. Há uma exigência de Jesus para a realização da Ceia na história demonstrada no imperativo “Fazi isto em minha memória”. Então, analisando o texto, destacamos três coisas importantes: em primeiro lugar a instituição da Eucaristia como realidade sacramental da Nova e Eterna Aliança; depois, a instituição do ministério capaz de tornar esse mistério presente na história: o sacerdócio; e por último, a condição do ministro e do novo povo de Deus que a Eucaristia como alimento e o sacerdócio como cabeça: viver à semelhança do Messias Servo, servindo uns aos outros, isto é, sendo eucaristia para a vida da Igreja.
Um forte e carinhoso abraço.
Padre José Erinaldo

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