CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

segunda-feira, 19 de março de 2018

FALAR DO AMOR E DA SALVAÇÃO

O evangelista Mateus tem o cuidado de mostrar que Jesus está ligado a Davi segundo a carne (Rm 1,3), mas não tendo nascido de um relacionamento entre um homem e uma mulher. A origem de Jesus pertence exclusivamente a Deus. Certamente com a participação da Mulher, mas sabendo-se que ali se trata de uma ação do Espírito Santo. O evangelista enfatiza a centralidade do Messias, que é a concretização da promessa divina, ponto de chegada e de partida do projeto salvífico de Deus. Diferentemente de Lucas, Mateus enfatiza mais a pessoa de José, homem justo, isto é, aquele que se coloca à disposição do plano salvífico de Deus, mostrando sua importância como aquele que deveria dar a Jesus a linhagem davídica, o cuidado paterno e proteção social a Virgem Maria. Também, ao inserir José, Mateus quer deixar claro que Jesus é o Filho de Deus. Não foi José que deu o nome ao menino, mas o próprio Deus através dele. Foi Deus quem disse que o menino seria chamado Jesus (Deus Salva). Em seguida, é dito do Menino que Ele é o Emanuel, isto é, o Deus conosco. Então, Emanuel não quer dizer o nome de Jesus, mas o que Ele significa no meio de nós.
2. Mateus exprime estruturalmente o mistério no quadro de uma genealogia que parte de Abraão genitor não-gerado, por meio de uma série de gerados genitores, até José... e Jesus: ambos gerados não genitores. Ao longo de toda essa descendência, o homem é aquele que “gera” (41 vezes). As mulheres têm aí o seu lugar, não porém como genitoras. O homem gera de (preposição grega: ek, que indica a origem): ele gera da mulher: Tamar, Raab, Rut e Betsabé. Ek indica bem a ligação original do filho com a mãe. No versículo 16, Jesus é ligado a Maria por meio da mesma partícula ek, conforme sua função feminina: “Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual foi gerado Jesus, a quem chamam de Cristo” (Mt 1,16; cf. 1,18).
3. Essa expressão complexa, mas rigorosamente refletida, foi alterada em alguns muito raros manuscritos gregos, onde se encontra: José, com quem noivou a Virgem Maria, a qual gerou Jesus. Mateus, porém, tem o cuidado de mostrar a importância de José no projeto de Deus e, por outro lado, de não dizer que Maria gerou. Ele caracteriza a relação dela com Jesus unicamente com a preposição ek: 1,16 (que ela partilha com as outras mulheres). Ao dizer, no passivo: “Maria, da qual foi gerado Jesus”, Mt quer excluir não apenas um genitor humano (José), mas também um genitor divino (isso num sentido biológico). Ele evita cuidadosamente apresentar o Pai ou o Espírito Santo como o genitor de Cristo. Para ele, o poder divino suscita a fecundidade de Maria a título não de fecundador, mas de Criador, despertando as faculdades da criatura para o projeto divino.
4. Depois disso, Mt ousa elaborar um relato dessa geração, em termos elípticos, relato que ele intitula de genealogia em 1,1: origem de Jesus Cristo (Mt 1,18). Ali, ele declara em termos velados, quase intraduzíveis: “Ora, antes de terem coabitado, achou-se ela grávida por obra do Espírito Santo” (1,18). Aqui, de novo, o Espírito Santo não é, de forma alguma, apresentado como genitor (ou esposo) de Maria (sentido biológico. Na maioria das vezes, as pessoas entendem o Espírito Santo como esposo da Virgem, tendo em mente a figura do macho. Isso é falso! Num sentido espiritual, se alguém deseja dizê-lo, deve pensar na condição de deixar-se habitar por Ele, que desperta Nela a fecundidade). Sua relação com Cristo é mostrada pela mesma partícula ek, que caracteriza a relação original do gerado para com as mulheres da genealogia, até Maria. O Espírito Santo é situado, portanto, não como um macho genitor, mas na linha das mulheres supramencionadas; ele não é, por conseguinte, nem esposo de Maria, nem genitor de Jesus; ele desperta, interiormente, como Criador, a fecundidade de Maria. O ek característico da origem feminina aparece três vezes em Mt (1,16.18 e 20) para caracterizar a relação de Jesus com Maria (1,16), depois, com o Espírito; o que se explica ainda melhor já que em hebraico a palavra espírito, Ruah, é feminina. Não que Mt faça do Espírito uma mulher. Está claro que essas expressões elípticas são cuidadosas em demonstrar a transcendência do Espírito, mas o texto original semítico recorreu a essa designação feminina de Deus (Ruah) para não atribuir a um genitor masculino o nascimento de Jesus.
5. Lucas – Em Lc, o Espírito Santo está presente diferentemente. Não se encontra mais a partícula ek. O anúncio: “O Espírito Santo virá sobre ti e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra” (1,35) é um eco de Êxodo 40,34-35, onde Iahweh cobre com a sombra da nuvem luminosa a Arca da Aliança e enche-a de sua Glória. A nuvem no alto significa a transcendência e a Glória que cintila da Arca, a imanência de Deus em seu povo. Ele habita uma tenda semelhante à dos hebreus, nômades no deserto, e faz brilhar sobre eles sua luz e sua graça poderosas. Segundo essa expressão tipológica (que vem de Maria), Deus não é de forma alguma apresentado como genitor ou macho que cobre a fêmea (conforme a interpretação falsa projetada pelo psicanalista Jones, com a confiança que caracteriza a escolástica desta disciplina), mas o Espírito Santo se manifestou conforme a transcendência de Êxodo 40,34-35. A afirmação essencial de Lc (eco de Maria que recebeu a mensagem) é a identidade do “Filho do Altíssimo” (Lc 1,32), do “Filho de Deus” (1,35) e do “Filho de Maria” (1,31). Essa identificação pessoal é a expressão mais límpida e mais profunda do mistério.
6. A formulação do Prólogo de João (de resto semelhante a Lc) não é menos original. Para ele, a concepção virginal não é um segundo nascimento, e sim a manifestação temporal do único nascimento eterno, que é virginal em todos os estágios: Jesus, nascido eternamente apenas do Pai, nasce temporalmente da Virgem e na vida dos cristãos pelo nascimento batismal. Nesses três estágios, o nascimento não é: nem do sangue, nem de um querer de carne, nem de um querer de macho (andros e não anthopos), mas de Deus (Jo 1,13). Em todos esses níveis, ele é unicamente de Deus, com a cooperação da fé de Maria e dos cristãos nas duas etapas: a eterna e a temporal. A fórmula ambígua de Jo 1,13 caracteriza a um só tempo cada uma das etapas, que chamaríamos hoje de três nascimentos: eterno, temporal e batismal.
7. Paulo não é claro quanto à virgindade, e não tendo de nenhum modo conhecido Jesus em sua corporalidade, como João evangelista, mas apenas na fulguração de sua glória sobre o caminho de Damasco, ele se mostra confuso, elíptico, quando se trata de falar da encarnação: o que ele faz raramente em três textos notáveis nos quais sua expressão singular evita os termos óbvios que teriam obscurecido a concepção virginal. Nas três passagens onde é obrigado a falar do assunto, ele não diz absolutamente que Jesus nasceu (vergo gennaô), mas que ele veio, tornou-se, adveio (verbo gignomai): da descendência de Davi (Rm 1,3), da mulher (expressão notável em Gl 4,4), semelhante ao homem (Fl 2,7), como ele se tornou (mesmo verbo gignomai) “obediente até a morte”, no versículo seguinte (2,8).
8. Essas expressões singulares, nas quais reencontramos o ek de Mt, mostram sua intuição de um mistério que ele não consegue explicar, mas que tais fórmulas respeitam com uma convergência notável. Não menos admirável é a expressão “nascido da mulher” (Gl 4,4), quando a tendência da linguagem e dos costumes convidaria a dizer “nascido do homem”. O ponto comum é que estas quatro expressões da encarnação virginal (Mt, Lc, Jo e Paulo), tão diferentes nos vários níveis de explicação, são novas, originais, elípticas e, finalmente, indicadoras de um mesmo mistério.
9. Duas coisas devem ser levadas em conta aqui: a virgindade da Mulher e a divindade de Jesus. A virgindade, nesse caso, é um sinal autêntico da divindade do filho. Quanto a José, é um homem justo, cumpridor da Lei de Deus, amante da verdade, obediente a vontade do Senhor, torna-se pai adotivo do Salvador, dando-lhe a condição de fazer parte da descendência de Davi e também um nome. Ambos, Maria e José foram abençoados para fazerem parte da mais sublime ação de Deus na história, na Humilhação de Si (enquanto Filho encarnado) e Exultação de uma humanidade decaída, na Humanização do Verbo (assume, sem deixar de ser Deus, nossa natureza humana) e na divinização do homem por meio do mesmo Verbo feito carne. José, homem justo, e Maria a PLENA DA GRAÇA, a mulher INIMIGA DA SERPENTE, a ARCA da Nova e Eterna Aliança. Maria nasceu, foi criada por Deus, para ser a BENDITA, mãe do BENDITO FILHO JESUS CRISTO, NOSSO SALVADOR.
Um forte e carinhoso abraço.
Padre José Erinaldo

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