CAMOCIM CEARÁ

Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra; Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa.(Mt.5)

sábado, 23 de setembro de 2017

O DOMINGO

Mt 20,1-16a
1. O chamamento de Deus desde cedo indica sua preocupação em salvar a todos. Muitos são chamados e logo respondem, foram escolhidos para uma missão e para a salvação. O convite do Senhor se estende a todos em todos os tempos e lugares, não está preso a culturas, status, aparências ou afetos. Ele é livre e age como quer, objetivando somente o bem para os escolhidos. Ele é a BONDADE e não age de outro modo senão segundo Sua própria natureza, que é AMOR, VERDADE e VIDA. O que Ele faz, fá-lo em vista de uma vida na verdade e no amor. Essa realidade de Deus afeta os que apelam para questões meritórias, os que vivem segundo os ditames absolutos da lei, aqueles que gostam de serem aplaudidos pelo cumprimento dos seus deveres. Em outras palavras, há aqueles que gostam de serem endeusados pelo que fazem. Uma atitude de amor desmascara uma outra invejosa. Os operários da primeira hora são invejosos, apegados ao mérito, gostam de posição, aplauso e são, ainda, pretensiosos. Deus, por outro lado, sem negar a importância da lei, mostra sua beleza por meio da misericórdia. Outro dado importante: não é a lógica econômica que alegra a Deus, mas a prática incessante da bondade de uns para com os outros.
2. Jesus é a presença da bondade de Deus para os perdidos, Ele é o Reino do Pai. Sua presença indica que o tempo do privilégio já passou, é chegada a hora da misericórdia do Pai, da mais evidente expressão do amor, como dom de si mesmo, entrega de si para o bem daqueles que mais necessitam do que é verdadeiramente bom, o tempo para se ser bom, para a prática desinteressada do prazer de amar por causa, unicamente, do Reino dos Céus. Jesus, em si, revelou como se vive profundamente a Lei de Deus: SENDO BOM. Só Deus é bom! Então é chegado o tempo de os seguidores de Jesus viverem como participantes da divindade, como filhos de Deus. Somente quem é filho pode viver à semelhança do Pai. Sendo o Pai o AMOR, outra não pode ser a vida dos filhos senão segundo o mesmo amor. Não se compreende um batizado que não coloque acima de tudo o amor. A radicalidade na lei pode indicar um endeusamento pessoal, uma grande distância do amor, um ateísmo embutido.
3. Esse texto revela um problema no interior da comunidade cristã. De um lado os judaizastes, que ensinavam que todos os convertidos do paganismo deveriam, antes de tudo, conhecerem o judaísmo, passarem às leis de Israel para, somente depois, tornarem-se cristãos. Por outro lado, havia os paulinos, que afirmavam que bastava a fé. De qualquer modo, o texto deixa claro o interesse de Jesus pela salvação dos incircuncisos, os pecadores, aqueles que não tinham mérito algum, que viviam à margem da sociedade, os últimos, que pela ação cristã tornaram-se os primeiros. Para eles, a misericórdia de Deus se fez presença em Jesus. A partir de então, a experiência dos convertidos com a Lei de Deus será segundo a prática do bem.
4. O Reino de Deus exige trabalhadores alegres e que trabalhem manifestando essa alegria que corresponde à vida nova abraçada. Certamente, nem todos encontram logo o Reino. Alguns já desde o início labutam segundo a vontade e o amor de Deus. De qualquer modo, os que respondem logo ao chamado de Deus e os que o fazem somente perto do fim têm como objetivo a mesma coisa: a salvação. Num contexto de mentalidade mundana, isso soa injusto. Um pagamento igual a todos é aparentemente desvalorizador da dignidade humana. Preste bem atenção no advérbio APARENTEMENTE. O fato é que Jesus usa essa parábola com um simples objetivo de destruir a religião dos méritos que ainda se encontra enraizada em muitas mentes e corações. Por isso, o dono da vinha (o Senhor) age na justiça e com bondade para quem jamais imaginaria tal pagamento. Na verdade, Ele ama e ensina a todos fazerem o mesmo. Quem crer no mérito não sabe o que isso significa. A mente meritória facilmente se envolve com a inveja e descamba na tristeza.
5. Estaria Deus oferecendo mais graças a uns e a outros não? Não é o caso pensado nessa parábola. É bem verdade que o Senhor capacita as pessoas conforme a missão por Ele mesmo concedida. As missões profética, sacerdotal, teológica e pastoral exigem graças conforme o querer de Deus em cada uma delas. Nem todos têm as mesmas graças. O que aconteceu à Virgem Maria não é a mesma coisa que aconteceu a João Batista e assim por diante. O texto aqui não quer tratar disso, apesar de ser importante, mas afirmar que o mérito não transforma a pessoa. O amor, por sua vez, vivifica e oferece um novo horizonte a quem dele se aproxima e o coloca na ação cotidiana.
4. Além dessa preocupação cristológica, Mateus focaliza também uma questão eclesiológica. A Igreja substitui o povo judaico. O novo povo de Deus é aquele que, pela fé e pelo batismo, foi inserido no Corpo de Cristo. A Igreja, e não mais o povo de Israel, é o instrumento legítimo para a salvação da humanidade. O Povo de Deus é, agora, aquele que pertence a Cristo. Através dos Seus discípulos, filhos através do Filho, a mensagem da misericórdia e da bondade de Deus deve chegar a todos os povos, a fim de que todos formemos um só na lógica de Cristo que desafia o mundo.
Um forte e carinhoso abraço.
Pe. José Erinaldo

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